07/01/2019

Apartamento 802







Me lembro exatamente do dia em que fechei negócio e comprei meu apartamento. Eu mal podia acreditar que finalmente tinha conseguido. Em poucas semanas eu estaria me mudando e aquela sensação de poder morar sozinha estava me animando cada vez mais. Foram dias indo em lojas escolhendo a mobília até que finalmente ele ficou pronto e eu me mudei. Confesso que a primeira noite foi um pouco estranha, mas logo me acostumei. Na semana seguinte fiz um jantar, chamei uns amigos e foi ótimo aproveitamos para por a conversa em dia.
Meus dias eram divididos entre faculdade e trabalho, mas eu sabia que a noite eu teria meu lugar para ficar a vontade. Até que seis meses depois...

Eu estava saindo do trabalho quando meu celular começa a tocar, era uma amiga perguntando se poderíamos nos encontrar, pois ela precisava conversar comigo. Fiquei preocupada e pedi pra ela me encontrar no shopping, pois eu precisava comprar um presente e assim foi.  Ela toda sem jeito me fez uma pergunta que eu realmente não esperava " será que você aceitaria uma pessoa morar um tempo com você, só até arrumar um lugar ? "... Depende falei imediatamente.  Quem seria essa pessoa e se fosse por no máximo 2 meses ajudando nas despesas... E não causando nenhum problema..."  Ela sorri e diz minha prima foi expulsa de casa porque se assumiu e ela não pode ficar em casa... sei que estou pedindo muito, J. Sei que você gosta de privacidade mas eu estou desesperada, não sei o que pode acontecer com ela... De repende vejo ela cair em choro. Ficamos por um tempo conversando e ela me explicou melhor a situação da guria, pedi para ela nos apresentar e assim eu poderia me decidir. Nos despedimos e eu fui embora. Durante o caminho fiquei pensando, como pode pais colocarem uma filha pra fora de casa apenas por sua opção sexual?! Fiquei com pena mas não iria tomar nenhuma decisão baseada em emoção.

Na manhã seguinte no metrô indo para a faculdade, numa determinada estação embarca uma guria bonita, apesar do semblante triste. Nossos olhares se cruzaram, sorri timidamente... ela retribui e uma lágrima cai de seus olhos. As portas se abrem e ela desce. Faltava algumas estações até chegar a que eu desco. Já estava na sala, quando minha amiga me manda mensagem perguntando se podemos nos encontrar na hora do almoço e ela vai levar a prima para nos conhecermos. Eu digo tudo bem nos vemos em algumas horas... A aula decorreu tranquilamente naquela manhã de quinta-feira. Na hora de sair a caminho do metrô me lembrei da guria de mais cedo, qual seria o motivo dela estar tão triste, qual seria sua história?...

Acabei chegando no local combinado e em seguida minha amiga também chegou, nos abraçamos e ela disse que a prima estava a caminho. Aproveitamos para falar sobre nossos rolos amorosos e rir um pouco. Não sei ao certo quanto tempo se passou, acredito qur tenha sido uns minutos. Quando minha amiga diz " J. Essa é a minha prima! " Assim que eu olhei, não podia acreditar era a guria do metrô. Me levantei para cumprimenta-la dei um abraço, pude perceber que ela estava precisando disso. Nos sentamos e ela me contou um pouco mais de sua história...Em meio a lágrimas enquanto relatava o que tinha acontecido, percebi o carinho que minha amiga tinha com ela. Procurando sempre fazer carinho em seu rosto, enxugar suas lágrimas, segurar suas mãos. Ela contou que trabalhava ali próximo em uma clinica médica e que infelizmente não tinha como alugar uma casa, por isso pediu ajuda para a prima.
Elas me olham...

" Olha moça, eu sei que você tem todo direito de recusar, fique a vontade. Mas se me ajudar, olha fica tranquila eu pago aluguel do quarto e ajudo com mais umas coisas..."  ela me diz e eu vejo seu rosto esboçar um sorriso tímido.  Paro por uns instantes olhando para elas e finalmente digo " Faremos um contrato, sábado você pode ir para meu apartamento! " As duas me abraçam e caem no choro.
A guria diz " obrigada J. Eu não tenho muita coisa, já que minha mãe acabou queimando quase todas as minhas roupas..." Minha amiga a abraça e me olhando diz " foi horrivel..."
Para acabar com o clima triste, sugerir que fossemos comer um doce para marcar um novo tempo em nossas vidas. Depois disso me despedi pois tinha que ir para o trabalho...


Acordei de madrugada e ao pegar meu celular tinha uma mensagem : Acredita em sorte? Pois é exatamente o que eu senti quando vi que era você a amiga da minha prima, a mesma guria que mais cedo me olhou de forma tão carinhosa e me encantou. Obrigada por tudo, ah e seu abraço é ótimo... não vejo a hora de poder te abraçar novamente!   Respondi : Acredito que nada acontece por acaso. Quanto ao abraço te darei um sempre que quiser!! 
Virei de lado e voltei a dormir.